Discos

LILA DOWNS na linha da morte

LILA DOWNS
La Linea
(Narada / EMI)

Num ano em que a causa Zapatista andou nas bocas do mundo, devido à apelidada Zapatour, que levou pela primeira vez Subcomandante Marcos à Cidade do México em total apoteose, a anglo-mexicana LILA DOWNS edita um álbum polémico. Mais um manifesto anti-globalização que põe a nú a política económica global da NAFTA, a imigração precária num mundo de (apenas e só) livre circulação de bens financeiros e as situações desumanas que se vivem em solo mexicano: a questão da exploração do trabalho feminino nas “maquiladoras”, a falta de direitos civis dos mais de 10 milhões de indígenas que aí vivem, o infortúnio daqueles que pagam com a vida o facto de tentarem passar a fronteira entre o México e os EUA.
Filha de um professor de arte e pintor norte-americano e de uma indígena mexicana de etnia Mixteca, LILA DOWNS é uma espécie de MANU CHAO no feminino. Além de um discurso inflamado pela defesa dos pobres e excluídos, LILA exibe neste seu terceiro uma abrangência sonora notável, centrada sobretudo no universo latino-americano. Sem nunca esquecer as suas raízes índias – ela própria veste-se a rigor e vive numa comunidade mixteca – LILA DOWNS ora exibe a sensualidade serena de excelsas vozes hispano-americanas como SUSANA BACA e TOTO LA MOMPOSINA, ora revela o seu lado negro de tragédia e dramatismo inspirado em LHASA, ao qual não falta a referência à lenda de “Llorona”.
Entre arranjos jazz e pop tão sofisticados como aqueles que moldam “Eco de Sombras” de BACA, LILA DOWNS apresenta várias facetas em “La Linea”. A clássica, rígida e sóbria, centrada na cultura popular mexicana, em cumbias e boleros. E a experimentalista e irreverente, ironizando a má sorte daqueles que tentam passar a linha com rancheras (“El Bracero Fracasado”), decompondo o intervencionismo de WOODY GHUTRIE, revestindo todo o dramatismo das suas palavras com ritmos de hip hop e reggae, dando uma leitura afro-cubana – num jeito semelhante ao dos norte-americanos PINK MARTINI – a “Perhaps, Perhaps, Perhaps”. Uma obra tão interessante, quanto desequilibrada.

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