Festivais

Vishwa Mohan Bhatt no Évora Clássica virado a Oriente

Pandit Vishwa Mohan Bhatt
O Festival Évora Clássica celebra este ano o seu 15º aniversário servindo-nos entre os dias 7 e 11 de Julho, um banquete Palácio Cadaval musical e cinematográfico com iguarias asiáticas, balcânicas e mediterrânicas.

Uma noite de música cigana magiar com Conjunto Jag Virag da aldeia de Nyirmihalydi e o Conjunto Sentimento Gipsy Paganini. Bambu e cordas indianas por Shashank (flauta «bansuri») e Pandit Vishwa Mohan Bhatt («mohan veena»). A música popular do Rajastão e duplo clarinete «pungi» com Ashar Khan Manghaniyar e a magia dos Divana. A celebração judaica klezmer pelo clarinetista Yom. Os cânticos do tecto do mundo do tibetano Lobsang Chonzor e os berimbaus da China de Wang Li.

Além de um extraordinário cardápio musical que bem poderia ter uma extensão lisboeta no Museu do Oriente, o cartaz do Festival Évora Clássica celebra igualmente a festa do cinema indiano e da indústria de Bollywood.

Deixo-vos o belíssimo texto de apresentação do Évora Clássica assinado pela presidente Claudine de Cadaval e pelo director artístico Alain Weber.

15º Aniversário – Festival Évora Classica – OS ORIENTAIS

“Naturalmente subversivo por entre os seus e em revolta contra todos os usos tradicionais, o etnógrafo mostra-se respeitoso até ao conservadorismo, sempre que a sociedade em questão aparenta ser diferente da sua”.

Esta reflexão de Claude Lévi-Strauss, de quem festejamos este ano o centenário, está longe de ser desprovida de sentido. Depois de ter posto em questão uma sociedade julgada falsa nas suas convenções sociais, morais e religiosas, apareceu este fascínio por sociedades que tentam conservar uma herança oral e identitária face à razia da mundialização.

Antagonismo e esquizofrenia habitam o apaixonado pelo Oriente, tão fascinado pelas melopeias enrugadas de uma sanfona do deserto, como pelas proezas do som do I Phone.

Apesar de tudo isto, não nos iludamos, o mundo tradicional marginalizado pela nossa ideolatria consumista alimenta, antes de mais, do deserto do Rajastão às margens do mediterrâneo, o fabrico de imagens da indústria turística e das agências de viagens.

Os « Orientais de Évora », sempre à procura de outros mundos, propõem uma outra maneira de ouvir e apreender o mundo da música.

A música para muitas culturas é mais do que um divertimento e tem dentro dela as raízes profundas da emoção e da espiritualidade, do rito e do quotidiano.

As músicas que apresentamos no nosso Festival são bastante festivas e joviais mas são também um testemunho das grandes civilizações orais, da diversidade das expressões artísticas humanas e da verdade de um modo de vida onde a natureza ainda tem sentido.

Assim, o Festival Évora Clássica é um dos raros festivais em Portugal a oferecer espectáculos que, como esta cidade, pertencem ao património da humanidade, expressões artísticas que, em breve, terão talvez completamente desaparecido.

Este ano, para lá do seu ambiente caloroso e tradicional, o Festival convidará o público para uma viagem, que vai do coração da Ásia até ao Mediterrâneo.

Prazer para os olhos e para os ouvidos, refinamento de um gesto coreográfico ou de uma voz cristalina ou enrugada como o sopro do vento, os cantos e músicas de tradição, simultaneamente terrestres e celestes, transportam o corpo e a alma, quer sejam mediterrânicos ou orientais.

Esta edição, mais do que noutras, demonstrará como o acto musical remete sempre para uma imagem, valorizará, de um certo modo, a relação

« imagem/som » da tradição, conferindo um lugar especial ao cinema indiano que dá muita importância à música. O ciclo « Ciné Rama » será uma homenagem ao novo cinema Bollywood, à procura da sua história por intermédio de sumptuosas produções.

Com uma criação cine-concerto : A luz da Ásia (Prem Sanyas), filme mudo de Franz Osten (1935), que evoca a infância e a adolescência de Buda, musicado pelos músicos « manghaniyars » do Rejastão, um som apropriado é restituído a uma imagem de um outro tempo, o das cortes reais do Rajastão, o País dos Príncipes. Este passado não é assim tão longínquo porque, apesar das suas convulsões económicas, a Índia continua culta, sábia e inspirada nesta transe da alma que provoca ainda os grandes mestres como Shashank ou Pt Vishwa Mohan Bhatt, convidados do Festival.

Alain Weber

A imagem da Índia será também este ano, um postal ilustrado para crianças, a de « Chota Mela », festinha indiana pontuada pelos desfiles de magias destes ilusionistas, fabricantes de sonhos e aprendizes de feiticeiros que precederam o artifício do cinema.

Num outro imaginário cinematográfico, veiculado pelos filmes de Emir Kusturica ou de Tony Gatlif: o do músico gypsy, exuberante e decadente, festivo e jovial, tendo como fundo roulottes velhas e coloridas ou ainda, como na Hungria, o violinista virtuoso que tanto faz rodar os vestidos compridos da aristocracia húngara como os saiotes coloridos dos albergues populares (csardas).

Com o clarinetista Yom, que reinventa a música yiddish com a fogosa cigana incarnada pelo tambor das Balcãs, o tapan, é esta mesma determinação virtuosa que voltamos a encontrar.

Nestes tempos de incerteza, estes valores de transmissão fazem cada vez mais sentido. A maior parte deste músicos, mais do que um divertimento, exprimem a vida e estão ancorados numa memória que os torna intemporais, é sem dúvida o seu maior trunfo face ao mundo actual e ao futuro.


Programa principal

Terça-feira dia 7 de Julho

Abertura do Festival

Gypsy night (Noite cigana)

22h – Palácio Cadaval – Jardim de Paço

Primeira Parte

Conjunto Jag Virag da aldeia de Nyirmihalydi

Região de Szabolcs-Szatmar-Bereg – Hungria

Segunda Parte

Conjunto Sentimento Gipsy Paganini

dirigido por Gyuszia Horvath – Hungria

Quarta-feira dia 8 de Julho

22h – Palácio Cadaval – Jardim do Paço

Bambu e cordas da Índia

Duo de mestres

Shashank, flauta «bansuri» e Pandit. Vishwa Mohan Bhatt, «mohan veena»
Parupalli Phalgun, «mridangam», Pandit. Ramkumar Mishra, «tabla»

– Karnataka and Rajasthan

Quinta-feira dia 9 de Julho

18h30 – Palácio Cadaval – Salão de Música

Ashar Khan Manghaniyar

Música popular do Rajastão e duplo clarinete «pungi» – Índia do Norte

21h – Palácio Cadaval – Jardim do Paço

Yom
Música «klezmer»

Yom, clarinete, Denis Cuniot, piano, Benoît Giffard, tuba, Alexandre Giffard, taban

Sexta-feira dia 10 de Julho

20h – Palácio Cadaval – Igreja dos Lóios

Lobsang Chonzor

Cânticos do tecto do mundo – Tibete

22h – Palácio Cadaval – Jardim do Paço

Ciné-concerto criação «Les Orientales»

A Luz da Ásia (Prem Sanyas) – Filme mudo de Franz Osten – (Índe/Alemanha, 1925, 1h37mn, VOSTF) – Realização : Niranjan Pal, a aprtir do poema de Edwin Arnoldmusicado pelos músicos Manghaniyars do Rajastão, Gazi Kahn Barna and party

Sábado dia 11 de Julho

20h – Palácio Cadaval – Igreja dos Lóios

Wang Li

berimbaus da China e de algures e flautas de cabaça

22h – Palácio Cadaval – Jardim do Paço

Magic India

Mágicos e músicos do Rajastão com o grupo Divana

– Rajastão

CINEMA

CINE RAMA

A descoberta do cinema indiano

Palácio Cadaval – Salão de Música

De Quarta a Sabado

Quarta-feira dia 8 de Julho

16h00 – Palácio Cadaval

Mangal Pandey – The rising

Ballad of Mangal Pandey de Ketan Mehta –
Música : A.R Rahman, 2h30 – Índia – 2005

VO Legendado em português

Publico: Para todos

Quinta-feira dia 9 de Julho

16h00- Palácio Cadaval

Dashavatar

Cada Era tem um herói – Desenho animado realizado por Bhavik, 2h – Índia – 2008

VO Legendado em inglês

Publico: Crianças e adultos

Sexta-feira dia 10 de Julho

15h00- Palácio Cadaval

Lagaan

Era uma vez na Índia – Escrito e realizado por Ashutosh Gowariker, 3h40 – Índia – 2002

Música : A.R Rahman

VO Legendado em português

Publico: Para todos

Sábado dia 11 de Julho

15h00- Palácio Cadaval

India magica

Jodhaa Akbar d’ Ashutosh Gowariker – com Hrithik Roshan e Aishwarya Rai, 3h33 – Índia – 2007
VO Legendado em inglês
Publico: Para todos

Informações adicionais sobre os espectáculos em cartaz no site do Festival Évora Clássica.

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